Paulo Teixeira quer diálogo com Hugo Motta para destravar PL da cannabis medicinal
Em evento do Brasil 247 e do Conjur, ministro defende que a descriminalização e eventual legalização não deve ocorrer exclusivamente pela via judiciária
247 - O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, defendeu a necessidade de um diálogo com o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), para destravar a tramitação do Projeto de Lei 399/15, que autoriza o plantio da cannabis para fins medicinais, veterinários e industriais no Brasil. O projeto atualmente aguarda deliberação do recurso na Mesa Diretora da Câmara.
A declaração foi dada nesta terça-feira (18), durante o evento "A Política Nacional sobre Drogas: Um Novo Paradigma", realizado pelo Brasil 247, TV 247 e Consultor Jurídico, com apoio do Grupo Prerrogativas, em Brasília (DF).
Teixeira destacou que, apesar das resistências no Congresso Nacional, o avanço da regulamentação da cannabis é essencial para ampliar o acesso a medicamentos utilizados no tratamento de condições como epilepsia, esclerose múltipla, Alzheimer e Parkinson.
Em sua fala, Teixeira destacou que em diversos países surge uma nova abordagem, oposta à sangrenta guerra às drogas. "A política de guerra às drogas era sucedânea da Guerra Fria vendida pelos EUA, a forma que vendiam armas e intervenção nos países, como a Colômbia, onde arrasaram quarteirões inteiros. Essa política permanece, mas uma outra política está nascendo, e ela deve levantar nossa atenção, mesmo nos EUA, onde o tema da cannabis passou à luz do dia", afirmou o ministro.
Ele ressaltou que países como Uruguai e México já modificaram suas legislações sobre a cannabis, permitindo a regulamentação do uso medicinal e adulto e reconhecendo os riscos à saúde.
"O Uruguai regulamentou o uso da cannabis. Toda substância que altera a consciência pode causar problemas, mas o Uruguai modificou a política, ultrapassando um governo conservador, que foi derrotado agora. O México também já mudou. Há uma lógica de mudar a política de drogas", pontuou.
Para o ministro, a segurança pública não pode ser o eixo central da política sobre drogas, e sim a redução das desigualdades e a prevenção. "Não pode ter como centro a segurança pública e justiça, e sim a diminuição das desigualdades e prevenção", destacou.
Teixeira relembrou que o PL 399/15 passou por diversas dificuldades ao longo de sua tramitação, sofrendo boicotes internos, como a tentativa do ex-ministro Osmar Terra de esvaziar a comissão que tratava do tema. No entanto, agora ele vê uma janela de oportunidade, com Motta se mostrando favorável a discutir o tema.
"Osmar Terra fez um trabalho de esvaziar a comissão, trocaram os membros. Empatamos na votação e o voto de minerva era o do relator, então vencemos. Está pronto, mas recorreram no plenário. (O ex-presidente da Câmara) Arthur Lira nunca colocou em votação. Conversei com Hugo Motta e ele disse que é muito ruim não ter uma regulamentação dessa natureza. O passo que devemos dar como sociedade é regulamentar o uso medicinal e industrial da cannabis", declarou.
O ministro reforçou que o avanço na regulamentação pode contribuir para desmistificar o tema e enfrentar o preconceito existente. "Se conseguirmos resolver essa parada, aprovar o 399, esse tema vai tirando a cortina do preconceito, que cai. Hoje, toda sociedade já legitimou e aprovou esse uso", afirmou.
Ele também mencionou que há um esforço para que o projeto possa ser analisado pelo Senado, onde acredita ser possível aprimorar o texto e abrir o debate à sociedade brasileira.
Por fim, Teixeira ressaltou que é essencial garantir que o mercado da cannabis não seja dominado exclusivamente pela indústria estrangeira e que a questão da descriminalização e eventual legalização não ocorra exclusivamente pela via judiciária.
"Não devemos tomar que o mercado deve ser tomado pela indústria, porque está sendo tomado pela indústria estrangeira. Não vejo avanço nas decisões do STJ e do STF, vejo perigo. Quando se descriminaliza poucas quantidades, não é por aí. O medicamento vai ser regulado conforme a necessidade do paciente", concluiu.
O debate ocorre um dia após o Supremo Tribunal Federal (STF) concluir, no plenário virtual, o julgamento sobre a descriminalização do porte de maconha para uso pessoal. Os ministros decidiram, por unanimidade, manter a decisão que descriminaliza a posse da substância, além de estabelecer um limite de 40 gramas para diferenciar usuários de traficantes.
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