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      Trump impõe tarifa de 50% e ameaça destruir economia do pequeno reino de Lesoto

      Setor têxtil, responsável por 90% das exportações do país africano, pode colapsar após retaliação comercial dos Estados Unidos

      Trabalhadores têxteis do Lesoto (Foto: Reuters)
      Redação Brasil 247 avatar
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      Reuters – Um dos países mais pobres do mundo, Lesoto, no sul da África, pode ter sua economia dizimada pela nova política comercial adotada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reeleito em 2024 e empossado para seu segundo mandato em janeiro de 2025. A denúncia foi feita pelo analista econômico Thabo Qhesi em entrevista à agência Reuters, publicada nesta quinta-feira (3).

      Lesoto foi alvo da mais alta tarifa já anunciada pelo governo norte-americano: 50% sobre suas exportações. A justificativa da Casa Branca foi a de aplicar uma “tarifa recíproca” em reação aos 99% cobrados por Lesoto sobre produtos americanos. A medida ocorre poucas semanas depois de Trump ridicularizar o país publicamente, dizendo que se tratava de uma nação “da qual ninguém jamais ouviu falar”.

      Com um Produto Interno Bruto (PIB) de pouco mais de US$ 2 bilhões e dependente do setor de vestuário e têxtil — que responde por cerca de 90% de suas exportações — Lesoto corre o risco de colapsar com a imposição da tarifa. “A tarifa de 50% introduzida pelo governo dos EUA vai matar o setor têxtil e de vestuário de Lesoto”, alertou Qhesi. “Se as fábricas fecharem, toda a indústria morrerá e haverá efeitos multiplicadores. Lesoto estará morto, por assim dizer”, acrescentou.

      Exportações ameaçadas, empregos em risco

      O país africano exportou US$ 237 milhões aos Estados Unidos em 2024, o equivalente a mais de 10% do seu PIB. A maior parte dessas exportações é composta por diamantes e vestuário — incluindo jeans da marca Levi’s. Segundo a consultoria Oxford Economics, o setor têxtil emprega cerca de 40 mil trabalhadores, sendo o maior empregador privado do país e sustentáculo de toda uma cadeia econômica.

      A tarifa imposta por Trump representa um duro golpe para a já fragilizada economia de Lesoto, que vem enfrentando dificuldades adicionais desde o desmonte da USAID, a agência americana de cooperação internacional, responsável por grande parte da ajuda externa ao continente africano.

      Além disso, a medida sinaliza, segundo especialistas, o fim do acordo AGOA (African Growth and Opportunity Act), que garantia acesso preferencial de produtos africanos ao mercado dos EUA. O objetivo do acordo era impulsionar o desenvolvimento dos países africanos por meio do comércio internacional.

      Impactos sociais e geopolíticos

      O governo de Lesoto ainda não se pronunciou oficialmente sobre a tarifa, mas o ministro das Relações Exteriores já havia relatado à Reuters que o país vinha sofrendo os impactos dos cortes de ajuda internacional, sobretudo no setor de saúde — fundamental em um país com uma das maiores taxas de infecção por HIV/AIDS do mundo.

      A fórmula adotada pelo governo dos EUA para calcular as tarifas penaliza com mais severidade países que compram poucos produtos norte-americanos, como Lesoto, Madagascar, Vietnã, Nicarágua e Camboja — mesmo que esses países sejam muito mais pobres do que os grandes parceiros comerciais dos EUA.

      Entre os afetados também está a população comum. Em Maseru, capital de Lesoto, o vendedor de milho Sekhoane Masokela desabafou: “O país dele não é o único. Ele está nos dando a oportunidade de cortar laços e procurar outros mercados. Está claro que ele não quer mais nada conosco.”

      Reação global e riscos para o comércio internacional

      A imposição das novas tarifas faz parte de uma guinada agressiva de Trump na política comercial global. Na quarta-feira (2), o presidente anunciou uma série de novas tarifas para diversos países, alterando décadas de normas do comércio internacional e gerando preocupações com o aumento dos custos para consumidores e desequilíbrios econômicos.

      A resposta internacional à medida ainda está sendo formulada, mas há um crescente temor de que essa política protecionista possa provocar retaliações e um novo ciclo de tensões comerciais, especialmente com países em desenvolvimento que dependem fortemente de exportações para os Estados Unidos.

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