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Relato perturbador de especialista da USP revela o mundo caótico dos viciados em apostas

Psicólogo alerta para o crescimento desenfreado do vício em jogos de apostas e compara a dependência com a de drogas, como cocaína e álcool

(Foto: Divulgação | ABR)

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247 - O crescimento exponencial dos jogos de apostas online no Brasil tem causado grande preocupação entre especialistas e profissionais de saúde. Em entrevista à TV pública, o psicólogo Edilson Braga, pesquisador do Ambulatório de Jogos do Hospital das Clínicas da USP, fez um relato alarmante sobre o impacto devastador desse vício na vida dos brasileiros. "As pessoas perdem tudo. Quando eu falo tudo, é o que ela tiver para perder", afirmou o especialista, ressaltando que a fissura pelo jogo é intensa e capaz de destruir completamente a estabilidade financeira e emocional dos indivíduos.

O fenômeno das apostas esportivas e dos jogos de azar via celular ganhou força nos últimos anos, com promessas de ostentação e enriquecimento rápido. No entanto, segundo Braga, a realidade é bem diferente: "A maioria das pessoas que dizem ter gastado R$100, na verdade, gastou pelo menos R$500." O psicólogo comparou a situação atual a uma "bomba-relógio", sugerindo que o Brasil está prestes a enfrentar uma epidemia de transtornos ligados ao jogo.

O avanço do vício entre os jovens

Um dos aspectos mais preocupantes abordados por Braga é o aumento significativo do vício entre os jovens. Ele destacou que a faixa etária mais atingida está entre 20 e 30 anos, com um crescimento acentuado no número de jogadores entre 18 e 25 anos. "Triplicou ou praticamente quadruplicou o número de pessoas nessa idade", revelou o psicólogo. Esse cenário é particularmente preocupante porque o cérebro ainda está em processo de maturação nessa fase, tornando os jovens mais vulneráveis aos danos causados pelo vício.

Outro dado alarmante apontado por Braga é a presença de adolescentes de 15, 16 e 17 anos envolvidos com o jogo. "Eles estão jogando de forma intensa, e isso afeta todas as classes sociais, principalmente a classe média", afirmou. O vício em apostas não discrimina gênero ou classe social, mas tem se espalhado com maior força entre os homens jovens, segundo o especialista.

Efeitos devastadores na saúde mental

As consequências desse vício vão muito além das perdas financeiras. Braga relatou que muitos jogadores chegam ao ambulatório em um estado clínico avançado, frequentemente trazidos por familiares. "Quando o jogador chega até nós, ele já perdeu o controle há muito tempo. Muitos apresentam ideação suicida, pois já perderam tudo o que tinham para perder", alertou. Além disso, o transtorno do jogo raramente vem sozinho, sendo comumente acompanhado por quadros de ansiedade, depressão e abuso de substâncias como álcool e nicotina.

Braga enfatizou que o vício em jogos de azar afeta o cérebro de maneira similar a outras dependências químicas, como a de cocaína. "O mecanismo de dependência é o mesmo. A fissura, ou craven, é igual à de quem está dependente de cocaína", explicou. Essa dependência, segundo ele, ativa o mesmo sistema dopaminérgico no cérebro, responsável pela sensação de recompensa e gratificação.

Regulamentação e medidas do governo

Com o crescimento descontrolado das apostas no Brasil, o governo federal, sob a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, já anunciou que tomará medidas rigorosas para regulamentar o setor, uma vez que grande parte das casas de apostas, especialmente aquelas que proliferaram nos últimos anos, não atendem aos requisitos legais para funcionar. A expectativa é que até o final do mês, cerca de 500 dessas empresas deixem o mercado formal por não cumprirem as normas estabelecidas. No entanto, Braga alerta que a regulamentação, embora necessária, não será suficiente por si só para resolver o problema. "Precisamos de uma regulamentação verdadeira, que envolva uma série de medidas de proteção à saúde pública", afirmou.

O relato do psicólogo Edilson Braga traz à tona a gravidade do vício em apostas no Brasil, que tem devastado a vida de milhares de pessoas, especialmente os mais jovens. À medida que o governo avança com a regulamentação do setor, será crucial que políticas de prevenção e tratamento também sejam implementadas, a fim de conter essa epidemia silenciosa que ameaça a saúde mental e financeira de uma geração.

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