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      Brasileiros vivem pânico em universidades após novas medidas de Trump

      O receio não se restringe aos estudantes estrangeiros. Até professores americanos relatam monitoramento constante

      Donald Trump impôs tarifas de 25% sobre importações de automóveis pelos Estados Unidos (Foto: Evelyn Hockstein/Reuters)
      Laís Gouveia avatar
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      247 - No terceiro ano do doutorado na Universidade de Michigan, o brasileiro Pedro deveria estar concentrado na qualificação de sua tese e no trabalho de campo. No entanto, em vez de focar nos estudos, ele vive sob a constante preocupação de ser detido e deportado pelo governo dos Estados Unidos. A reportagem é da Folha de S.Paulo.

      Pedro, de 30 anos, está legalmente no país com um visto de estudante e nunca cometeu um crime. No entanto, sua participação em protestos pró-Palestina no campus o colocou em uma situação delicada. Com a intensificação da repressão a manifestações, estudantes estrangeiros passaram a ser alvo de detenções e ameaças de deportação.

      No início de março, autoridades americanas prenderam Mahmoud Khalil, estudante palestino da Universidade Columbia. Poucas semanas depois, Badar Khan Suri, da Universidade Georgetown, também foi detido. Na última terça-feira (25), foi a vez da doutoranda turca Rumeysa Ozturk, abordada por agentes de imigração perto de sua casa. Embora todos possuíssem vistos regulares, o governo do republicano Donald Trump insiste em deportá-los, sob a justificativa de que apoiam organizações terroristas.

      Paralelamente, Trump pressiona universidades para que reprimam os protestos pró-Palestina, classificando qualquer crítica a Israel como antissemitismo. Recentemente, retirou US$ 400 milhões de financiamento da Universidade Columbia até que a instituição se adeque às novas diretrizes.

      Rafael, um brasileiro de 29 anos que estudou com Khalil no mestrado, descreve o ambiente na Columbia como "um clima de pânico". Por medo de represálias, também prefere não revelar seu nome verdadeiro. "O fato de que simplesmente sumiram com uma pessoa é assustador", disse à Folha. "Estão atribuindo falas de pessoas que estavam no movimento como falas dele, quando ele nunca disse nenhum absurdo."

      O receio não se restringe aos estudantes estrangeiros. Até professores americanos relatam monitoramento constante, apagando suas redes sociais e evitando discutir determinados temas em público. O governo também ordenou o fim de programas de inclusão nas universidades, ampliando o clima de medo entre acadêmicos e alunos.

      Na semana passada, Rafael recebeu uma ligação supostamente do ICE (serviço de imigração americano), informando que um pacote com material ilegal do México havia sido endereçado a ele. Ele acredita que se tratava de um trote, mas muitos colegas relataram episódios semelhantes.

      Diante da situação, universidades têm alertado estudantes estrangeiros para que evitem viagens internacionais, pois há risco real de impedimento de retorno ao país. Instituições de ensino e advogados especializados têm distribuído guias de conduta sobre como agir em casos de detenção.

      A instabilidade também impacta diretamente a carreira acadêmica dos afetados. Pesquisadores que necessitam realizar trabalhos de campo ou consultas em arquivos no exterior estão impossibilitados de sair dos EUA por medo de não conseguirem voltar.

      Nesta semana, o secretário de Estado, Marco Rubio, anunciou o cancelamento dos vistos de cerca de 300 manifestantes, chamando-os de "lunáticos". Segundo o governo, qualquer pessoa que apoie organizações consideradas terroristas pode ser deportada, mesmo sem evidências concretas de ligação com tais grupos.

      Para estudiosos da cultura árabe e pesquisadores da região, a situação é ainda mais delicada. A Associação de Estudos do Oriente Médio (MESA, na sigla em inglês) alertou seus membros sobre incertezas quanto ao seu congresso anual, que acontece em novembro, em Washington. Muitos pesquisadores têm sido impedidos de entrar nos EUA, levantando dúvidas sobre a viabilidade do evento.

      Brasileiros e outros imigrantes tentam decidir como agir. Alguns dizem que preferem "abaixar a cabeça", enquanto outros querem continuar protestando. Em meio às incertezas, os atos nos campi persistem, ainda que, muitas vezes, com manifestantes escondendo o rosto por medo de represálias.

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