Com incerteza dos EUA, UE avança com plano de 800 bilhões de euros para defesa própria e da Ucrânia

Reuters - A Comissão Europeia propôs nesta terça-feira (4) um novo empréstimo conjunto da União Europeia no valor de 150 bilhões de euros (cerca de 157,76 bilhões de dólares) para financiar governos do bloco em investimentos na área de defesa. A iniciativa faz parte de um esforço total de financiamento de 800 bilhões de euros para fortalecer as capacidades militares da Europa.

Os líderes europeus estão sob forte pressão para aumentar os gastos com defesa, especialmente após o retorno de Donald Trump ao cenário político dos Estados Unidos, que serviu como um alerta para que a Europa não dependa cegamente do apoio de Washington.

Segundo a Comissão, o financiamento conjunto seria destinado ao desenvolvimento de capacidades paneuropeias, incluindo defesa aérea e antimísseis, sistemas de artilharia, mísseis e munições, drones e sistemas antidrone, além de atender a outras necessidades, como cibersegurança e mobilidade militar.

"Isso ajudará os Estados-membros a consolidar a demanda e a comprar em conjunto. Isso reduzirá custos, diminuirá a fragmentação, aumentará a interoperabilidade e fortalecerá nossa base industrial de defesa", afirmou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

Von der Leyen não especificou um cronograma detalhado para a implementação do plano, mas destacou a necessidade de aumentar os investimentos "de forma urgente agora e também ao longo desta década".

Os líderes da UE discutirão a proposta em uma cúpula especial dedicada aos gastos com defesa na próxima quinta-feira.

A Comissão também propôs que os investimentos em defesa sejam isentos dos limites fiscais impostos pelas regras da UE sobre gastos governamentais.

"Se os Estados-membros aumentassem seus gastos com defesa em 1,5% do PIB, em média, isso poderia criar um espaço fiscal próximo a 650 bilhões de euros", disse von der Leyen.

Além disso, a Comissão sugeriu que os fundos de coesão da UE – tradicionalmente destinados a reduzir desigualdades econômicas entre os países do bloco – também possam ser utilizados para projetos de defesa.

Somando esses fatores, a iniciativa poderia disponibilizar até 800 bilhões de euros para os governos europeus investirem na área militar.

"A Europa está pronta para assumir suas responsabilidades. Podemos mobilizar quase 800 bilhões de euros para uma Europa segura e resiliente. Continuaremos a trabalhar em estreita cooperação com nossos parceiros da OTAN. Este é um momento crucial para a Europa. E estamos prontos para dar esse passo", declarou von der Leyen.

Após o anúncio, o índice Stoxx Europe Aerospace and Defence (.SXPARO) registrou alta.

Donald Trump, que gerou dúvidas na Europa sobre o compromisso dos EUA com a aliança de segurança da OTAN, afirmou que os membros europeus da organização deveriam destinar 5% do PIB para defesa – um nível que nenhum país da aliança, incluindo os próprios Estados Unidos, atinge atualmente.

Além disso, Trump suspendeu a ajuda militar à Ucrânia após um embate com o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy na semana passada, deixando os países europeus em alerta e buscando estratégias para reagir.