Macron se aproxima de Milei com foco em litio e influência no FMI
Conversas entre França e Argentina revelam mais que apoio diplomático: estão em jogo os metais críticos argentinos
247 – A recente ligação telefônica entre Emmanuel Macron e Javier Milei, destacada em reportagem da agência PIA Global, lança luz sobre os verdadeiros interesses por trás da relação entre França e Argentina. Publicamente descrita como uma conversa para “intercambiar opiniões sobre a situação econômica da Argentina” e reafirmar o “apoio da França ao povo argentino”, a comunicação esconde, na verdade, motivações geopolíticas e econômicas ligadas ao controle de recursos naturais estratégicos, em especial o lítio.
Na mensagem publicada por Macron em sua conta oficial, o presidente francês foi direto ao ponto: “Muito mais que um aliado em setores-chave, como os metais críticos, a Argentina é um amigo com quem queremos construir a economia do futuro.” A referência explícita ao interesse francês por minerais estratégicos, como o lítio, revela que o apoio a Milei não é meramente solidário — trata-se de uma negociação em torno de recursos naturais e poder político nos bastidores de instituições multilaterais como o FMI.
Litígio velado: FMI, litio e diplomacia econômica
Macron não esconde que o litígio velado pelo acesso ao lítio é parte de uma estratégia global francesa para compensar o colapso de sua influência no continente africano. Com a perda de territórios e aliados históricos na região do Sahel — onde países como Mali, Níger e Burkina Faso romperam com o domínio francês em movimentos nacionalistas e panafricanistas —, Paris busca novas fronteiras de exploração. A Argentina, sob o governo entreguista de Milei, aparece como terreno fértil.
A aliança entre Macron e Milei tem um componente financeiro evidente: a França, como um dos principais acionistas do Fundo Monetário Internacional (FMI) e com assento no seu Conselho Executivo, pode pressionar por condições mais favoráveis nos acordos de refinanciamento da dívida argentina. Isso também se estende ao Club de Paris, ao Banco Mundial e à União Europeia, onde o lobby francês pode influenciar diretamente o fluxo de recursos e os prazos de pagamentos.
O litio argentino como peça geoestratégica
O foco principal da França recai sobre o triângulo do lítio — região que inclui as províncias argentinas de Salta, Jujuy e Catamarca. A francesa Eramet, gigante da mineração e do processamento de minerais estratégicos, opera desde 2019 o projeto Centenario-Ratones, em Salta. Com investimentos de cerca de US$ 870 milhões, a empresa iniciou a produção de carbonato de lítio em novembro de 2024, com capacidade de 24 mil toneladas por ano.
Em 2025, o primeiro carregamento de 40 toneladas foi exportado para a China via Porto de Rosario, evidenciando o interesse francês em manter presença e ampliar sua fatia neste mercado estratégico. A Eramet já anunciou planos para a construção de uma segunda planta na região, o que indica que a presença francesa não será pontual — mas sim estruturante.
Macron em busca de novos domínios
A ligação a Milei representa mais que uma simples conversa entre chefes de Estado. É a consolidação de uma política de expansão econômica neocolonial, onde o apoio financeiro e diplomático vem acompanhado de contrapartidas estruturais — neste caso, o controle sobre os recursos minerais estratégicos argentinos. Em meio à fragilidade da soberania nacional imposta pelas políticas ultraliberais do governo Milei, Macron enxerga uma oportunidade para reposicionar a França como potência global, agora deslocando sua ambição do Sahel para os Andes.
Como bem aponta a análise da PIA Global, “as potências saqueadoras não perdem tempo” quando identificam vulnerabilidade nos países do sul global. A Argentina, que já sofre com a dependência econômica e política de organismos internacionais, pode estar prestes a ceder ainda mais autonomia em troca de alívio financeiro de curto prazo — mas a um custo alto para sua soberania no longo prazo.
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