Comando Vermelho amplia domínio no litoral norte de SP com tráfico e grilagem de terras
Disputa silenciosa entre facções altera controle sobre tráfico e recursos em Ubatuba, enquanto PCC foca em expansão internacional
247 - O Comando Vermelho (CV), principal facção criminosa do Rio de Janeiro, vem expandindo seu território e influência pelo litoral norte de São Paulo, com foco especial na cidade de Ubatuba, que faz divisa com o Rio. A expansão é marcada pela disputa por pontos de venda de drogas e áreas de fornecimento que, até recentemente, eram dominados pelo Primeiro Comando da Capital (PCC). Fontes das polícias dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, bem como do Ministério Público paulista, confirmam que o CV avança de forma gradual e silenciosa, aproveitando-se de um aparente desinteresse do PCC pelo controle do mercado regional, relata o Metrópoles.
O promotor Alexandre Affonso Castilho, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Vale do Paraíba, detalha o fenômeno: "A ocupação do Comando Vermelho está sendo sorrateira, paulatina. Parece que o PCC realmente perdeu o interesse no tráfico regional". Segundo ele, o PCC estaria redirecionando seus esforços para uma expansão internacional, o que abre espaço para que o CV domine a cena local, explorando tanto o tráfico quanto a grilagem de terras.
As disputas entre as facções têm se concentrado em bairros periféricos de Ubatuba e em áreas afastadas das praias, conhecidas como sertões. Além do tráfico, o Comando Vermelho também atua na grilagem de terras, ocupando e controlando zonas que, anteriormente, não despertavam interesse das grandes facções. Essa combinação de atividades ilícitas torna o controle sobre a região altamente lucrativo para o CV.
Similaridades territoriais favorecem expansão do CV - O avanço do Comando Vermelho também é facilitado pelas semelhanças geográficas entre o litoral norte de São Paulo e a região de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. O coronel Uirá Ferreira, subsecretário de Inteligência da Polícia Militar do Rio, explica que essas características favorecem a operação da facção carioca em Ubatuba: “essa região do litoral norte de São Paulo, Ubatuba, é muito parecida com o Rio. Em termos de relevo, é muito similar ao que a gente tem, por exemplo, ali em Angra dos Reis. Então, você vai ter um modus operandi de atuação parecido, principalmente no que diz respeito a domínio territorial, barricada, contenção. É difícil uma grande cidade, como é a capital de São Paulo, ter locais com essas características. Como você não consegue acessar com viaturas, dificulta muito e facilita a implantação da atividade criminosa".
De acordo com o delegado Marcello Russo, da cidade vizinha Paraty, o PCC chegou a tentar estabelecer presença na região em eventos festivos, como o Festival da Cachaça e o Carnaval, mas o Comando Vermelho repeliu essas tentativas. “O PCC, em alguns momentos no passado, em casos isolados, tentava implantar um ponto, estabelecer-se no território, principalmente em Trindade, ou perto do centro histórico. O próprio Comando Vermelho repeliu essas investidas", afirma Russo.
Reorganização do crime e aumento da violência - O desinteresse do PCC pelo litoral norte também se reflete no aumento dos homicídios na região, um sinal de que traficantes menores estão brigando entre si pelos territórios deixados pela facção paulista. "A taxa de homicídios nas cidades da região é uma das maiores no estado. Esse é um indício de que o PCC não se importa tanto com esse território", explica o promotor Castilho.
Essa escalada de violência, impulsionada pelo vácuo deixado pelo PCC, preocupa as autoridades, que veem a disputa entre as facções se intensificando. Em Paraty, por exemplo, o Terceiro Comando Puro (TCP), que historicamente domina algumas comunidades, enfrenta uma pressão cada vez maior do CV. O delegado Russo alerta para a possibilidade de novos confrontos, já que o TCP tenta retomar áreas perdidas para o CV, em uma guerra silenciosa pelo domínio do tráfico local.
Assim, a expansão do Comando Vermelho no litoral norte de São Paulo representa uma reorganização significativa no controle do tráfico de drogas na região, alterando o cenário de segurança pública e criando um desafio complexo para as forças de segurança de São Paulo e do Rio de Janeiro.
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