Julgamento de Ives Gandra por suposta incitação a um golpe de Estado é adiado pela OAB-SP
Julgamento, que estava marcado para esta sexta-feira, foi retirado de pauta
247 - A Ordem dos Advogados do Brasil - seccional São Paulo (OAB-SP) decidiu adiar a análise de um recurso contra o jurista Ives Gandra Martins, alvo de uma representação disciplinar por suposta incitação golpista às Forças Armadas, destaca o UOL. O julgamento, que estava marcado para esta sexta-feira (8), foi retirado de pauta, segundo comunicado oficial da entidade, após pressões relacionadas à campanha eleitoral em curso para o comando da OAB-SP.
O jurista de 89 anos havia sido objeto de uma queixa disciplinar após responder a um questionário enviado por um major do Exército sobre a possibilidade de intervenção militar no país. Em dezembro de 2023, a OAB havia concluído que Gandra não cometeu infração, mas a ABI (Associação Brasileira de Imprensa) e o MNDH (Movimento Nacional de Direitos Humanos) recorreram da decisão, motivando o novo julgamento.
O adiamento do caso foi oficializado na última segunda-feira (4), conforme publicado no Diário Eletrônico da OAB. A decisão foi tomada pelo Presidente da 8ª Câmara Recursal da OAB-SP, João Vinicius Manssur, a pedido do relator do caso, embora sem uma justificativa clara para o ato. A entidade nega que a retirada da pauta tenha relação com pressões externas.
A movimentação ocorre em um contexto de intensa disputa eleitoral na OAB-SP, com as votações para a nova gestão ocorrendo em 21 de novembro. Ângela Gandra, filha de Ives e secretária da Família no governo Jair Bolsonaro (PL), está concorrendo ao cargo de vice-presidente em uma das chapas de oposição à gestão atual. Ainda conforme a reportagem, ela e o candidato a presidente, Caio Augusto Santos, manifestaram publicamente sua insatisfação com o agendamento do julgamento, sugerindo que a OAB-SP estava utilizando o caso para fins políticos.
“Estamos diante de uma perseguição velada”, afirmou Caio Augusto em sua conta no Instagram, enquanto Ângela Gandra destacou que o caso foi agendado "estrategicamente pela OAB nesta semana", reforçando a ideia de que o processo estava sendo manipulado para influenciar a eleição.
As críticas ao adiamento vieram também da ABI e do MNDH, com o advogado Carlos Nicodemos afirmando que a decisão "retarda a necessária resposta da OAB-SP para representação ética disciplinar", que visa não apenas responsabilizar o jurista, mas reafirmar o compromisso da Ordem com os preceitos democráticos.
A queixa contra Ives Gandra se baseia em documentos apreendidos pela Polícia Federal (PF) com o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro. Em 2017, Gandra respondeu a um questionário do major Fabiano da Silva Carvalho, no qual discutiu a possibilidade de intervenção militar. Em suas respostas, o jurista insinuou que a intervenção poderia ocorrer em casos de conflito entre os poderes.
Apesar disso, em dezembro passado, o Tribunal de Ética e Disciplina da OAB-SP já havia decidido que Gandra não cometeu infração, alegando que ele havia realizado uma análise teórica e não incitado qualquer prática criminosa.
Ives Gandra, por sua vez, defendeu sua posição, afirmando que nunca apoiou ações golpistas. Ele também desqualificou documentos encontrados pela Polícia Federal em relação a um plano golpista, dizendo que estes não têm validade jurídica.
O STF já se posicionou anteriormente, rejeitando a ideia de que as Forças Armadas poderiam atuar como um “Poder Moderador”, afirmando que intervenções militares são justificáveis apenas em situações extremas de violação à segurança pública.
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