Tarcísio muda sistema e câmeras corporais serão ativadas pelos próprios PMs. Especialistas criticam
Edital do governo Tarcísio de Freitas para compra de novas câmeras corporais prevê que equipamentos sejam acionados pelos próprios PMs. Gravações deixariam de ser ininterruptas
247 - O novo edital lançado pelo governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) para a aquisição de 12 mil câmeras para a Polícia Militar do Estado de São Paulo tem sido alvo de críticas de especialistas na área de segurança pública pelo risco de que a nova abordagem possa prejudicar futuras investigações, pois a responsabilidade de ativar as câmeras seria dos próprios policiais em ação.
Atualmente, a Polícia Militar opera com pouco mais de 10 mil câmeras que gravam de forma ininterrupta, sem necessidade de acionamento manual, podendo os policiais apenas melhorar a qualidade de imagem e áudio conforme necessário. No novo modelo, a gravação será iniciada manualmente pelos policiais ou remotamente por uma central de monitoramento caso percebam que o protocolo não foi seguido.
A Secretaria da Segurança Pública, liderada pelo ex-PM Guilherme Derrite, justificou as mudanças citando problemas com a bateria dos equipamentos e o alto custo de armazenamento, já que apenas uma pequena parte das gravações é utilizada em investigações. Em nota, a secretaria afirmou que o novo modelo de câmeras, com acionamento manual e remoto, expande as funcionalidades em relação ao equipamento atual e viabiliza a expansão do sistema.
Especialistas ouvidos pela Folha de S. Paulo, como Daniel Edler do Núcleo de Estudos da Violência da USP, criticam a mudança do modelo atualmente em vigor. “Está tirando da câmara os atributos que tornavam ela um equipamento bom para fiscalização do uso da força e transformando as câmeras só em um instrumento operacional da polícia. É por isso que vem com áudio bidirecional, com reconhecimento facial, com reconhecimento de placa”, disse Edler.
As funcionalidades citadas por ele estão previstas no novo edital e não existem nas câmeras atuais. Ainda conforme o especialista, "Quando elas [as câmeras] só gravam com a intenção do policial, a redução do uso da força tem um grau muito mais baixo e já há vários estudos indicando que chega a ser irrisório ou até nulo”.
A diretora-executiva do Instituto Sou da Paz, Carolina Ricardo, acrescenta que o edital não detalha suficientemente o funcionamento das gravações, destacando que a gravação ininterrupta é vital para um compliance mais amplo da atividade policial. Ela também alerta para a sobrecarga dos equipamentos devido às novas funcionalidades, transformando o programa em um instrumento de vigilância mais securitista.
O novo edital também enfrenta desafios logísticos e temporais. O contrato das 3 mil câmeras vence em 1º de junho, e outro lote em julho, mas a secretaria garantiu a renovação dos contratos até a conclusão da nova licitação.
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