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    Avanços no Brasil esbarram em desafios estruturais para produção de vacinas

    Falta de infraestrutura e integração entre governo e empresas limita a independência na área

    (Foto: Fábio Rodrigues-Pozzebom/Ag. Brasil)
    Guilherme Levorato avatar
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    247 - Apesar de avanços científicos notáveis, o Brasil enfrenta barreiras significativas para desenvolver e produzir vacinas de forma independente, destacou uma reportagem da Folha de S. Paulo. Embora conte com uma comunidade científica qualificada e instituições capazes de avaliar a eficácia de imunizantes, o país ainda falha nas etapas intermediárias do processo, o que dificulta a realização de ensaios clínicos em larga escala.  

    Especialistas enfatizam a desconexão entre o potencial científico do país e a falta de estrutura para transformar descobertas em produtos viáveis. "Existe uma desconexão no Brasil, tanto por parte dos empresários que transformariam a vacina em produto quanto do governo, em relação ao potencial científico do país", afirma Cristina Bonorino, imunologista da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.  

    Infraestrutura insuficiente - A ausência de um parque de testagem de toxicidade no Brasil é uma das principais barreiras apontadas. Segundo Flávio da Fonseca, virologista da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), sem esses testes é impossível avançar para avaliações clínicas. Ele também destaca a falta de estudos em primatas não humanos, essenciais para embasar decisões regulatórias.  

    Além disso, há uma carência de instalações especializadas na produção de lotes clínicos em pequena escala. "Você não consegue chegar numa empresa que tem o seu ciclo de produção totalmente ocupado e dizer: ‘preciso que você pare a sua produção para fabricar mil doses da minha vacina seguindo o padrão de boas práticas’", exemplifica Fonseca, ao comentar as dificuldades enfrentadas pela vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela UFMG, que tem seus lotes clínicos produzidos no exterior.  

    Complexidade do processo - Esper Kallás, infectologista e diretor do Instituto Butantan, ressalta que o desenvolvimento de vacinas é mais demorado e complexo do que outros fármacos. "Poucos lugares do mundo têm o domínio completo de toda essa cadeia, e é comum uma participação forte de instituições públicas", pontua.  

    Uma solução apontada por Kallás seria concentrar esforços em vacinas para doenças cujos "correlatos de proteção" já são conhecidos, o que poderia simplificar etapas de desenvolvimento. Por outro lado, ele acredita que a tecnologia de vacinas de mRNA, que teve sucesso contra a Covid-19, ainda enfrenta desafios como a baixa duração da imunidade e altos custos.  

    Cultura e colaboração - Para superar os gargalos, Bonorino defende a criação de uma estrutura mais descentralizada e ágil, baseada na colaboração entre governos e empresas. Ela critica a cultura predominante nas farmacêuticas brasileiras, que preferem apostar em genéricos com baixo risco financeiro. "É uma cultura que precisa mudar", concorda Fonseca.  

    Os especialistas reforçam que a autonomia na produção de vacinas é estratégica, como ficou evidente durante a pandemia de Covid-19. Sem investimentos em infraestrutura, parcerias público-privadas e uma mudança na mentalidade empresarial, o Brasil continuará dependente de insumos e tecnologias estrangeiras, o que compromete sua capacidade de resposta em situações críticas de saúde pública.  

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