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      “A China está vencendo a guerra comercial porque tem uma sociedade mais resiliente", diz Evandro Carvalho

      Um dos maiores sinólogos do País, ele critica a falta de conhecimento e a empáfia do Ocidente em relação à China

      Evandro Menezes de Carvalho (Foto: Divulgação)
      Redação Brasil 247 avatar
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      247 – A crescente rivalidade econômica e geopolítica entre Estados Unidos e China foi tema de uma entrevista concedida pelo jurista e professor Evandro Menezes de Carvalho ao jornalista Leonardo Attuch, editor da TV 247. Autor do livro “China: Tradição e Modernidade na Governança do País”, o jurista é considerado um dos maiores sinólogos do Brasil e defende que a vitória chinesa na guerra comercial é resultado direto da resiliência de sua sociedade e da eficácia de seu sistema de governança.

      “O que estamos constatando é que a sociedade chinesa é mais resiliente e que por isso está vencendo a guerra comercial”, afirmou Carvalho. Para ele, a preparação estratégica da China, combinada com investimentos pesados em ciência, tecnologia e educação, está permitindo ao país não apenas resistir à pressão dos Estados Unidos, mas ultrapassá-los em setores-chave. “A China já está vencendo em todas as indústrias da fronteira tecnológica”, destacou.

      Carvalho lembra que a mudança de postura chinesa foi anunciada pelo próprio presidente Xi Jinping ainda em 2017, quando declarou que a China estava se aproximando do centro do palco mundial e que isso exigiria maiores responsabilidades. “Isso representava uma mudança em relação ao discurso de Deng Xiaoping, que defendia uma postura mais discreta, mas era sobretudo uma constatação: a inevitabilidade de se tornar a maior economia do mundo”, disse.

      De acordo com o sinólogo, esse movimento não foi improvisado. “A China já vem se preparando para este cenário de guerra comercial há muitos anos”, ressaltou. E os resultados são visíveis: “No ano passado, a China teve um superávit com o resto do mundo de US$ 1 trilhão”.

      Carvalho também faz críticas diretas à visão que o Ocidente tem da China. “Há uma empáfia dos Estados Unidos, que se veem como fortes demais. Esse é um vício da potência hegemônica. Há uma cegueira sobre a China”, afirmou. Na avaliação do especialista, essa arrogância impede que os EUA compreendam a profundidade das transformações em curso no país asiático. “Os Estados Unidos são um país fraturado, como a maioria das sociedades ocidentais”, disse.

      Mais participação popular

      O sistema político chinês, segundo Carvalho, combina elementos do marxismo com a tradição milenar da cultura chinesa. “A sabedoria chinesa explica a governança chinesa”, observou. Ele argumenta que a China se define como uma democracia de processo integral, com ampla participação popular — um processo que está em constante expansão. “Eles estão construindo um processo de participação popular cada vez mais intenso”, disse. “A China está mostrando ser uma república mais avançada do que as democracias do Ocidente.”

      No campo científico e educacional, os avanços também são notáveis. “A China hoje tem várias universidades de primeira linha e está muito avançada em todas as tecnologias. Já supera os Estados Unidos em patentes e artigos científicos. O investimento é nas mentes. A ideia de uma China imparável parte daí”, afirmou. Ele acrescenta que “até para cooperar com a China no mesmo nível, é preciso investir em muita educação e pesquisa”.

      Vassalagem e cooperação

      Carvalho também abordou o papel do Brasil e da América Latina nesse novo equilíbrio global. “O Brasil e a América Latina sempre terão que lidar com essa balança, entre China e Estados Unidos”, disse. Para ele, o desafio está em manter a soberania. “Lamentavelmente, algumas autoridades estadunidenses ainda se referem à América Latina como quintal. Os Estados Unidos querem estabelecer uma relação de vassalagem com a América Latina, enquanto a China busca a cooperação”, afirmou. Nesse contexto, o Brasil precisa agir com equilíbrio. “O Brasil deve ter a habilidade para manter uma relação soberana com os Estados Unidos e aprofundar suas relações com a China.”

      Graduado em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e mestre em Direito Internacional pela Universidade de São Paulo (USP), Evandro Carvalho é uma das principais vozes no Brasil quando o assunto é China. Seu olhar crítico sobre o Ocidente e sua compreensão profunda da cultura e da política chinesas oferecem uma contribuição importante ao debate sobre os rumos da geopolítica mundial. Assista:

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