Paulo Gala: “A Guiana já produz em petróleo o que o Brasil produzia nos anos 2000”
Economista alerta para os riscos de repetir modelos extrativistas e defende que royalties da Margem Equatorial financiem inovação, refino e bioeconomia
247 – Em sua participação no evento Margem Equatorial e Políticas Públicas, realizado no dia 26 de março, em Brasília, pelo Brasil 247, pela TV 247 e pelo site Agenda do Poder, o economista Paulo Gala defendeu que o Brasil aproveite a exploração de petróleo na nova fronteira energética do país como alavanca para um projeto nacional de reindustrialização e desenvolvimento regional. Para ele, a riqueza gerada não pode se limitar à exportação de matéria-prima, mas deve ser revertida em investimentos estruturais e sustentáveis, com foco especial na região Norte.
“A Guiana está chegando a 1 milhão de barris por dia. 1 milhão de barris por dia era o que o Brasil inteiro produzia nos anos 2000”, afirmou Gala, ao dimensionar o potencial da Margem Equatorial. Segundo ele, em cenários otimistas, a produção brasileira nessa nova fronteira pode alcançar esse mesmo nível, o que representaria o equivalente a cinco vezes o PIB do estado do Amapá.
Gala destacou que o volume financeiro envolvido é expressivo. “Se for 1 milhão de barris por dia, eu fiz a conta aqui rapidamente: estamos falando de pelo menos R$ 150 bilhões por ano”, explicou. Mas fez um alerta: “Não adianta simplesmente explorar esse petróleo e mandar embora do país. A gente corre o risco de que toda essa riqueza seja totalmente exportada no sentido de que nada fique com a Margem Equatorial.”
O desafio, segundo o economista, é usar esses recursos para gerar ganhos reais à população e ao tecido produtivo nacional.
“O desafio é usar o petróleo dentro, usar o gás dentro, fazer refino, fazer petroquímica, usar o máximo possível desses recursos no território brasileiro para gerar renda e sofisticação produtiva no Brasil.”
Ele também advertiu contra o risco de que os municípios da região Norte se limitem a ser bases operacionais do extrativismo. “A gente não pode se contentar com qualquer atividade econômica. Há um risco aqui dos municípios do Amapá virarem o quê? Bases para manutenção dessas plataformas”, afirmou, citando como exemplo uma economia limitada a hotéis, aeroportos e restaurantes. “A gente precisa de muito mais do que isso.”
Como proposta concreta, Gala sugeriu o uso dos royalties para financiar um centro de inovação voltado à floresta.
“O meu sonho de consumo, se perguntasse, era o quê? Usar os royalties para financiar um centro de pesquisa de floresta no Amapá, para tirar a inteligência da floresta, desenvolver a bioeconomia, biocosméticos, coisas do tipo.”
Não ao modelo extrativista
Ele comparou o cenário com o que ocorre na Guiana e no Suriname, advertindo sobre a repetição de modelos extrativistas que não deixam legado. “Um pouco do modelo que está sendo feito na Guiana e no Suriname: os estrangeiros vão lá, extraem o petróleo, pagam algum royalty — dependendo da força do governo doméstico — e 100% dos recursos vai embora. Gera desenvolvimento onde? Na Noruega, no Reino Unido, nos Estados Unidos.”
Gala concluiu que o Brasil tem uma oportunidade rara de reverter essa lógica histórica. “O nosso desafio é como transformar isso em investimento perene. Investimento que fique na estrutura produtiva, com empresas, centros de pesquisa, universidades. Criar de fato um polo produtivo que se sustente por conta própria.”
E encerrou com um alerta: “Temos uma oportunidade histórica aqui, uma janela que precisa ser muito bem utilizada. Se não fizermos isso, daqui a 15, 20 anos, a gente vai fazer um seminário dizendo: ‘Puxa vida, o Amapá está igual, acabaram as reservas e nada aconteceu’.” Assista:
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