APIB se retira de “conciliação forçada” sobre o marco temporal
STF realiza nesta quarta a segunda audiência de conciliação que envolve o marco temporal para demarcação de terras indígenas
247 - A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) anunciou em nota nesta quarta-feira (28) que se retirou da conciliação no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a tese do marco temporal, denunciada pela entidade como uma afronta aos direitos dos povos indígenas. Pela tese do marco temporal, os indígenas somente têm direito às terras que estavam em sua posse no dia 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição Federal, ou que estavam em disputa judicial na época. O documento foi divulgado pela Agência Pública.
A Apib estacou que, apesar de o STF ter sido crucial na garantia de direitos durante a pandemia, a manutenção da referida lei, que contraria decisões anteriores da Corte, é preocupante. A entidade disse que participou da conciliação com disposição política, mas encontrou um ambiente hostil, onde a não suspensão da lei e as ameaças de uma possível PEC sobre o marco temporal comprometeram o diálogo. Além disso, a APIB criticou a condução da conciliação, que, segundo eles, foi marcada por preconceitos, chantagens e falta de respeito à autonomia dos povos indígenas.
"Ainda estamos vivos e não desistiremos de nossas terras, do usufruto exclusivo dasriquezas dos rios, lagos e solos, do direito de não sermos removidos de nossos territórios e do direito de termos nossos modelos próprios de desenvolvimento. Não permitiremos mais que o projeto do neocolonizadores nos atravesse e nos arrase", diz o documento.
O STF realiza nesta quarta a segunda audiência de conciliação que envolve o marco temporal para demarcação de terras indígenas. A APIB já havia criticado as tentativas anteriores de conciliação. A associação chegou a ameaçar deixar a comissão por entender que seus direitos são inegociáveis e não há paridade no debate. Contudo, a Apib confirmou nessa terça-feira (27) que estaria presente na reunião de hoje.
A audiência foi convocada pelo ministro Gilmar Mendes, relator das ações protocoladas pelo PL, o PP e o Republicanos para manter a validade do projeto de lei que reconheceu o marco e de processos nos quais entidades que representam os indígenas e partidos governistas contestam a constitucionalidade da tese.
Além de levar o caso para conciliação, Mendes negou pedido de entidades para suspender a deliberação do Congresso que validou o marco, decisão que desagradou aos indígenas. As reuniões estão previstas para seguir até 18 de dezembro deste ano.
Na prática, a realização da audiência impede a nova decisão da Corte sobre a questão e permite que o Congresso ganhe tempo para aprovar uma proposta de emenda à Constituição (PEC) para confirmar a tese do marco na Carta Magna.
Em dezembro do ano passado, o Congresso Nacional derrubou o veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao projeto de lei que validou o marco. Em setembro, antes da decisão dos parlamentares, o Supremo decidiu contra o marco. A decisão da Corte foi levada em conta pela equipe jurídica do Palácio do Planalto para justificar o veto presidencial. (Com informações da Agência Brasil).
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