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      Igor Calvet assume a presidência da Anfavea e critica importados chineses e guerra tarifária de Trump

      Executivo defende revisão de governança e retorno do imposto de importação para veículos híbridos e elétricos

      Carros a serem exportados no porto de Yantai, China (Foto: China Daily via Reuters)
      Paulo Emilio avatar
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      247 - A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) terá pela primeira vez um presidente vindo do mercado, sem vínculo direto com as montadoras. Igor Calvet, ex-secretário de Indústria e Competitividade do governo federal, assume o cargo em abril em meio às preocupações sobre as importações chinesas, além da guerra tarifária promovida pelo governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

      Nos últimos dois anos, a Anfavea enfrentou desavenças internas relacionadas aos incentivos tributários regionais no setor automotivo. Calvet garantiu que a entidade está pacificada e que sua diretriz será a de não interferir em estratégias comerciais individuais das empresas associadas. "Se eu defendesse um lado ou outro, estaria sempre arrumando um grande problema", disse ele à Folha de S. Paulo. Ele também afastou a ideia de que a Anfavea conduza lobby junto ao governo. "Isso é feito pelas montadoras. A Anfavea não se movimentou a favor ou contra qualquer um dos incentivos", assegurou.

      Sobre a possibilidade de montadoras chinesas entrarem na Anfavea, Calvet explicou que não há impedimento, desde que haja produção local. "Já me encontrei com representantes de empresas chinesas que disseram: 'quando começarmos a produzir, estaremos juntos'. Não existe nenhuma discriminação por origem de capital, até porque somos uma associação de multinacionais", ressaltou.

      Calvet reiterou que a Anfavea defende a recomposição imediata do Imposto de Importação para veículos híbridos e elétricos. "O mercado brasileiro não tem vocação para pilhagem. Essa expressão é forte, mas necessária. Existem empresas aqui instaladas há décadas, construindo capacidade produtiva, empregando no país."

      Na entrevista, o executivo destacou que as importações de veículos chineses triplicaram de 2023 para 2024, saltando para 120 mil unidades. "Se as empresas quiserem vir para cá investir e ter a mesma estrutura de custos trabalhistas e logísticos, estão competindo de igual para igual. Mas trazer apenas produtos montados é um problema."

      Sobre a transição energética, Calvet afirmou que a Anfavea não defenderá uma única rota tecnológica, mas destacou a vantagem competitiva do etanol. "Hoje, mais de 90% dos carros produzidos no Brasil são flex. O Brasil é protagonista da transição energética com biocombustíveis, e isso será um dos nossos discursos na COP30", disse.

      A guerra tarifária entre Estados Unidos e China, intensificada pelo governo Donald Trump, também preocupa a Anfavea. "Até 20 de janeiro, ninguém acreditava que ele faria isso de fato. Mas esses movimentos trazem insegurança", disse Calvet. Ele apontou que a China tem capacidade ociosa de 20 milhões de veículos anuais e está direcionando esse excedente a outros mercados, como o Brasil. "Vimos um navio inteiro carregado de carros chineses chegando recentemente. Isso já tinha acontecido no ano passado", ressaltou o executivo.

      Por outro lado, os impactos das tarifas nos EUA podem reduzir o ritmo da eletrificação global. "Trump diz que vai desacelerar a eletrificação. Se isso ocorre num mercado de 15 milhões de veículos por ano, o impacto no mundo é grande", alertou.

      Outro ponto polêmico é o imposto seletivo proposto na reforma tributária, que diferencia a tributação entre veículos a combustão e elétricos. "O problema é que estamos sendo colocados como setor nocivo à saúde e ao meio ambiente, o que não é verdade. Isso compromete a reputação da indústria”, afirmou. 

      Ele também destacou a incerteza sobre o impacto da reforma tributária nos investimentos do setor. "Anunciamos R$ 180 bilhões em investimentos para a transição energética, mas não sabemos se esses valores serão mantidos sem clareza sobre a estrutura tarifária. É por isso que eu não consegui sorrir quando fui escolhido para presidir a Anfavea”, observou.

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