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      Riscos de fusão entre Gol e Azul preocupam ex-conselheira do Cade

      Cristiane Alkmin Schmidt reforça que o Cade deve desautorizar a união das companhias aéreas

      (Foto: REUTERS/Ricardo Moraes)
      Redação Brasil 247 avatar
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      247 – A possibilidade de uma fusão entre as companhias aéreas Gol e Azul voltou à tona após a recuperação judicial da Gol, em andamento nos Estados Unidos, receber um investimento de até US$ 1,25 bilhão e prever sua reestruturação até julho. No entanto, a economista e ex-conselheira do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Cristiane Alkmin Schmidt, alerta para os riscos que a união das duas empresas pode trazer para os consumidores. As observações da especialista constam em artigo publicado na edição de abril da revista Conjuntura Econômica, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV).

      De acordo com Schmidt, “a motivação dessa fusão, destaca-se, é nebulosa e questionável”. No texto, ela defende que o Cade deveria barrar qualquer tentativa de incorporação, pois Gol e Azul já respondem por um total de 61% do mercado doméstico de passageiros, o que deixaria a concorrência ainda mais restrita em diversas rotas. Conforme destaca a ex-conselheira, em regiões como Recife, Galeão (RJ) e Belo Horizonte (BH), a concentração combinada pode chegar a 90%, 81% e 84%, respectivamente.

      Para a especialista, o cenário de concentração seria ainda mais preocupante considerando a dificuldade de entrada de novas empresas no setor, que depende de altos investimentos e da disponibilidade de aeroportos e slots para pousos e decolagens. Ela recorda ainda que a experiência anterior do Cade, ao aprovar a fusão entre Gol e Webjet em 2012, resultou em aumento de preços, conforme apontado posteriormente pelo próprio conselho. “É com elevada probabilidade que haverá dano ao brasileiro, se a fusão for aprovada, assim como ocorreu com Gol-Webjet”, escreveu.

      Eliminação da concorrência

      Em entrevista ao canal BandNews na última quinta-feira (3/4), Schmidt acrescentou que o acordo de compartilhamento de voos (codeshare) entre Gol e Azul – anunciado em maio de 2024 – ultrapassou o limite do que seria aceitável para uma simples parceria comercial. “Nesse período, as empresas operaram ‘uma coordenação de malhas’ que reduziu rotas onde havia sobreposições”, disse. De acordo com a ex-conselheira, isso significou a eliminação de concorrência em cerca de 11% dos 40 trajetos compartilhados, o que pode pavimentar o caminho para a fusão.

      Schmidt também contesta o argumento de que a união das duas companhias seria necessária para evitar falências e prejuízos ainda maiores ao setor aéreo. Ela lembra que a Azul reestruturou suas dívidas e obteve lucro líquido, enquanto a Gol está prestes a concluir sua recuperação judicial. “Ou seja, as duas, que têm margem operacional melhor do que a da Latam, já não correm o risco de saírem do mercado, o que ocasionaria uma concentração econômica indesejada”, afirma.

      Por fim, a ex-conselheira do Cade ressalta que mercados internacionais, como Europa e Estados Unidos, têm precedentes de fusões negadas quando elas ameaçam gerar concentração excessiva. Nesse sentido, ela considera improvável que os consumidores brasileiros saiam ganhando de um movimento semelhante no país: “Pior seria a concentração, quase monopolista, em determinadas rotas”, alerta Schmidt, reafirmando a contraindicação do negócio para o bolso do brasileiro.

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